Entrevista com o tio Coxe Filipe, 09 de Junho de 2008, chegada do 2º grupo de tocoistas expulsos do ex. Congo Belga para Luanda (1950)

Foram várias entrevistas-videos com o tio Coxe Filipe (2007-2008), nelas relata sua autobiografia desde seu local de nascimento, nas matas (MaBassi), onde foram encontrados pelos colonialistas, instalação do Protestantismo e Catolicismo no Béu, ida para o ex Congo Belga, conversão ao tocoísmo, expulsão do ex congo belga para Angola, fala das prisões, desterros, até 1983. São muitos factos não publicados, entre eles, às ultimas palavras de Simão Toco dias antes de sua partida para o Sul de Angola e exilio (1963-1974), para Portugal.

Nasci nas margens do rio Kiombo, em 1923, nas matas da antiga aldeia "Kikukama", na actual comuna de Béu, municipio de Makela do Zombo, do clã "Bulungu ye Nlaza Mpindi, nkombo nene i viondoka mpaka, vo ke i Nkambu ko i Mbuku Nimi (antiga designação do clã, antes da desintegração de Nlaza Mpindi), actual Bulungu di Mpindi, era filho Alvaro Mazingidi, tio da Mama Maria Rosa Toco, do clã Kinzinga (Nzinga uzinga kongo mponda) e de Madalena Ntika, da clã Bulungu. (ver: .MGR. J.CUVELIER, Vic.Apost.de MATADI. Nkutama Mvila za Makanda, p.7)


No ano de 1932, com a pressão das autoridades, para que os nativos abandonassem às matas e se transferissem para actuais localidades, eu Coxe Filipe e meus pais mudavamos também."Quando meu pai e outros anciãos se deslocavam a procura do lugar onde se instalariam, eu também os acompanhava, até ao actual aldeia Kimbele (na actual regedoria do Mpombo). A cada rio que era atravessado deitava-se nas suas margens "cola e ginguba", caso fossem comidas, era indicação da aceitação da sereia local, significava lugar propicio para nos alojarmos.Depois, da localização, transportamos a "Pedra Grande" que se encontra até hoje na aldeia Kimbele no Mpombo, que servia para afiarmos as catanas, enxadas etc."

 

Conversão ao Tocoísmo (1949)


Fui admitido em 1949, mas, antes da descida do espirito santo, eu acompanhava apenas os ensaios do coro.
No dia 9 de Janeiro de 1950, fomos presos, posteriormente expulsos do ex congo belga em companhia de muitos irmãos, num total de cem (100). Chegamos ao Noqui, onde permanecemos um (1) mês, alojados no local, abandonado pelos serviços de saude da "Penta Medina". Aí, cortamos um tronco, e lá içavamos a Bandeira Portuguesa. O irmão Afonso Pereira, escrevia numa pedra grande "Saída dos Filhos de Israel, da terra do Egipto" . Encontravamos Mbanza Kongo, cheio de capim, permanecemos aí dois (2) meses, lavramos, fizemos picadas, depois partimos dalí para Luanda, onde chegamos no dia 01 de Junho de 1950, meu irmão Bunga Gabriel chegou para Luanda no dia 22 de Junho de 1950. Ficavamos fixados pelas autoridades, no antigo Bairro Indigena, actual Cidadela Desportiva de Luanda.
No antigo Bairro Indigena, os cultos eram realizados fora e sentavamos em luandus (esteiras), ao domingos assitiamos na missão Metodista.Às tardes e manhãs, deslocavamo-nos frente administracção (actual administracção do Rangel), para içar a Bandeira Portuguesa.

No ano de 1952, comecei a trabalhar na D.T.A. (Direcção dos Transportes Aereos) actual TAAG (Transportes Aereos de Angola)

17 de Março de 1953prisão e deportação dos anciãos principais


No dia 17 de Março de 1953, as autoridades aprisionaram-nos espalhando-nos para diversas partes da Provincia Portuguesa de Angola outros para o Norte outros para o Sul, a pretextos de negarmos pagar o imposto. Nossa deportação para o Sul da Provincia Portuguesa de Angola, foi Barco Kwanza, partimos para Moçamedes, às insignias de estrelas vermelhas de oito (8) pontas que usavamos, foram-nos arrancadas antes da nossa partida, e na administracção local de Moçamedes, era arrancada a estrela do ancião Luvualu David, no dia 25 de Março de 1953, chegamos e directamente eramos conduzidos a prisão.
Alguns dos anciãos que me lembro :
1.Dituvuila Miguel 2. Nkula Daniel (Porto Alexandre) 3.Luvualu David (Baía dos Tigres) 4.Mwanga Pedro, 5.Mandiangu David

6. Coxe Filipe (colocado na Camara Municipal) 7. Mpanzu


Foi lá que conheci a irmã Marcelina Lufilalu, proveniente da Igreja do Bungu, no Norte de Angola, uma mulher muito corajosa, que era acusada de proferir palavras nacionalistas contra os colonialistas: "a Africa é dos africanos, os brancos que vão se embora", e, por proferir tais palavras, foram-lhe arrancados vários dentes.
1955 - Inicio das cerimonias religiosas
Nos dias (23-26) de Dezembro de 1955, o Dirigente Simão Toco e a mama Rosa, de passagem para a Ponta Albina, recomendava o inicio das cerimonias religiosas, seriam baptisados os que porventura nunca tinham sido baptizados, em qualquer igreja. Eu fui o primeiro a ser baptizado depois dessa orientação. "Não posso dormir noutro sitio, porque minha casa é prisão". Era o que o Dirigente havia nos falado, e, ficava junto de nós, três (3) dias. Lá eu era também uma das pessoas que transcrevia as cartas circulares espalhadas aos tocoistas. Era assim que ele escolhia-me como escrevente da Igreja.
No dia 10 de Outubro de 1956, regressamos para Luanda e encontrava o irmão Manzambi Fernando como escrevente.
Ainda, em 1956, meu irmão Manuel Nsitusadila e outros eram deportados para Malange. Posteriormente, era novamente deportado para o Bembe até a eclosão da guerra sangrenta no norte de Angola em 15 de Março de 1961.
Mudanças do Bairro Indigena, actual Cidadela Desportiva para o Bairro dos Congolenses (1957)
No dia 02 de Fevereiro de 1957, nos transferimos do antigo Bairro Indigena, actual Cidadela Desportiva para o actual Bairrro do Congolenses.
No dia 16 de Setembro de 1962, casei com a irmã Mariana Isabel Francisco.
No ano de 1966, fui novamente preso com o irmão Ndombaxe Malungu. No dia tres (3) de Junho de 1967-1969, sofri uma prisão pela PIDE.No ano de 1971, sofri outra prisão.Em (1972-1974) sofri outra prisão, fui deportado para S.Nicolau onde chegamos no dia 5 de Maio. Nossa soltura aconteceu em Maio de 1974, depois de Golpe de Estado em Portugal.
Em 09 de Janeiro de 1980, foi integrado juntamente com os anciãos abaixo no grupo Doze Velhos:
1.Dondeiro Zombala, 2. André Messani, 3º Coxe Filiupe, 4º.Malungo Sebastião, 5º.Firmino Moreira, 6º.Nkama Afonso, 7º.Diankweno Manuel, 8º.Funsu Pedro, ao grupo Doze Velhos.

A BEM DA IGREJA
Simão Gonçalves Toco (1977, 15 de Agosto),"João, vai fazer a informação da Igreja".

Simão Gonçalves Toco (1977, 15 de Agosto) "João vai fazer a informação da Igreja.


A BEM DA IGREJA


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Last modified on Saturday, 07 October 2023 11:04
JMayele

Página Web de informações sobre Vida e Obra de Simão Gonçalves Toco, Tocoistas, Igreja INSCM e do Tocoísmo, que utiliza como fonte:Cartas Circulares de Mayamona, em Arquivos da Igreja, Ofcícios da PIDE/DGS (IANTT) e dados colectados em entrevistas com fontes primárias e secundárias nas cidades de Luanda,Benguela e Uíge.

Atenção: Não é a página Oficial da Igreja, também sua intenção não é substituí-la, Mano João Daniel um dos jovens da Residência de Simão Toco (1974-1984), que depois de montar o «Centro de Documentação Simão Toco ou Arquivo Virtual» utilizando Cartas circulares de Simão Toco para os «tocoístas» (1950-1974), cria esse espaço informativo para cumprir com às palavras do Dirigente que em 15 de Agosto de 1977, minutos antes de ser preso pela ODP (Organização da Defesa Popular), declarou:" João, vai fazer a informação da Igreja". Também surge para fornecer seus subsídios aos que investigam sobre Vida e Obra de Simão Gonçalves Toco (1918-1984).

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